Humanizar o conhecimento




Parte 5, Capítulo 6 de Pais Brilhantes, Professores Fascinantes de Augusto Cury.

Objetivos desta técnica: estimular a ousadia, promover a perspicácia, cultivar a criatividade, incentivar a sabedoria, expandir a
capacidade crítica, formar pensadores.

A educação clássica comete outro grande erro. Ela se esforça para transmitir o conhecimento em sala de aula, mas rara­mente comenta sobre a vida do produtor do conhecimento. As informações sobre química, física, matemática, línguas deve­riam ter um rosto, uma identidade. O que significa isso?

Significa humanizar o conhecimento, contar a história dos cientistas que produziram as ideias que os professores ensinam. Significa também reconstruir o clima emocional que eles vive­ram enquanto pesquisavam. Significa ainda relatar a ansiedade, os erros, as dificuldades e as discriminações que sofreram. Alguns pensadores morreram por defender suas ideias.

A melhor maneira de produzir pessoas que não pensam é nutri-las com um conhecimento sem vida, despersonalizado. Sou crítico dos materiais didáticos belíssimos que expõem o conhecimento mas desprezam a história dos cientistas. Este tipo de educação causa aversão nos alunos, não provoca a arte de pensar.

Quantas noites de insônia, dificuldades e turbulências eu ,não passei para produzir uma nova teoria sobre o funcionamento ela mente num país que não têm tradição de produzir cientistas teóricos! Produzir uma nova teoria é mais comple­xo do que fazer centenas de pesquisas. Mas nem todos valo­rizam esse trabalho.

Quais são meus alicerces intelectuais? Serão os meus sucessos, o reconhecimento da teoria e seu uso em teses de mestrado e doutorado? Não! Meus alicerces são as dores que passei, as inseguranças que vivenciei, as angústias que sofri, a superação do meu caos...

Por trás de cada informação dada comi tanta simplicidade em sala de aula existem as lágrimas, as aventuras e a coragem dos cientistas. Mas os alunos não conseguem enxergá-las.

É tão importante falar da história da ciência e da história dos pensadores quanto do conhecimento que eles produzi­ram. A ciência sem rosto paralisa a inteligência, descaracteri­za o ser, o aproxima do nada (Sartre, 1997). Gera homens arrogantes, e não homens que pensam.. Raramente um cien­tista causou danos à humanidade. Quem causou os danos foram os que utilizaram a ciência sem consciência crítica.


Paixão pela ciência: em busca de aventureiros

Como eu produzo conhecimento sobre a forma como construímos pensamentos, sempre me intrigou observar que um pensador gerava um conjunto de colegas pensadores na primeira geração e, na segurada, eles escasseavam. Por exem­plo, muitos jovens antigos de Freud tornaram-se pensadores, como Jung e Adler. Depois da morte de Freud, muitos de seus seguidores se fecharam para novas possibilidades de pensamentos. Assim, não expandiram mais suas ideias, como fez a primeira geração, apenas as reproduziram ou repetiram.

Por que ocorre esse fenômeno inconsciente na ciência? Porque a primeira geração participou da história viva do pen­sador. Sentiu o calor dos seus desafios, das suas perseguições e da sua coragem, e por isso também abriu as janelas da sua inteligência e ousou criar, correr riscos, propor algo novo. A segunda geração não participou dessa história, por isso endeusou, e não humanizou o pensador.

Claro que há exceções, mas esse mecanismo é universal. Esteve presente na filosofia, no direito, na física, no sistema político, e até no meio dos líderes espirituais. Sabe quais são os piores inimigos de uma teoria e de uma ideologia? São seus defensores radicais. Há muito que falar sobre isso, mas não é o momento.

Diante disso afirmo convictamente que humanizar o conhecimento é fundamental para revolucionarmos a edu­cação. Caso contrário, assistiremos a milhares de congressos de educação que não terão efeito intelectual algum. Os alunos, mesmo os que fazem mestrado e doutorado, serão no máximo atores coadjuvantes da evolução da ciência.

Creio que 10 a 20% do tempo de cada aula deveriam ser gastos pelos professores com o resgate da história dos cien­tistas. Esta técnica estimula a paixão pelo conhecimento e produz engenheiros de ideias. Os alunos sairão com um diploma na mão e uma paixão no coração. Serão aventureiros que enfrentarão e explorarão o mundo com maestria.

Os jovens sairão do ensino médio e universitário desejan­do se espelhar em modelos de empreendedores, tais como cientistas, médicos, juristas, professores, enfim, os atores que transformam o mundo, e não em modelos fotográficos e artistas que do dia para a noite ganham os holofotes da mídia. O conhecimento sem rosto e a indústria fantasiosa do entre­tenimento têm matado nossos verdadeiros heróis.



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