Todos querem o perfume das flores,
mas poucos sujam as mãos para cultivá-las...
Proteger os solos da memória é cuidar da
qualidade dos arquivos conscientes e inconscientes que contêm os segredos da
nossa personalidade.
É se preservar do
registro do medo, do desespero, das mágoas, enfim, do lixo de nossa existência.
É também reescrever os arquivos doentios já arquivados.
Todos se preocupam com os arquivos dos
computadores, mas raramente alguém se preocupa com as mazelas e misérias
arquivadas em sua memória. Se não protegermos a memória, é possível ter uma
vida completamente infeliz, mesmo com uma infância saudável.
Por favor gravem isso. Nos computadores o
registro depende da vontade, na memória humana o registro dos pensamentos e
emoções é involuntário, realizado pelo fenômeno RAM (registro automático da
memória). Nos computadores, a tarefa mais fácil é apagar os arquivos; no homem
é impossível, a não ser por traumas cerebrais.
Embora difícil, precisamos aprender a proteger
a nossa memória. Toda angústia, medo, agressividade e idéias negativas
registram-se e não podem mais ser deletadas, só reeditadas. Diariamente, você
planta flores ou constrói favelas na sua memória. Como assim?
AS FAVELAS DA MEMÓRIA
Vamos comparar a memória com uma grande
cidade, cada bairro com um arquivo e cada endereço com uma informação.
Diariamente arquivamos novas informações que constroem belos bairros ou áridas favelas.
Por isso há ricos pobres e pobres ricos.
Muitos moram em bairros nobres, querem ficar
distantes das zonas pobres. Mas nos solos de sua memória pode haver inúmeras
favelas, arquivos doentios. Alguns são privilegiados financeiramente, mas miseráveis
interiormente. Em duas mansões há jardins, mas na sua emoção há tristeza e
desolação.
FOBIAS
As fobias são provenientes de uma interpretação
distorcida que gera um registro exagerado de um objeto fóbico: insetos,
animais, pessoa, ambiente. A claustrofobia é o medo de lugar fechado, tal como
um elevador; a acrofobia é o medo de altura; a fobia social é o medo de lugares
públicos; a fobia simples é o medo de insetos e animais. Mas o pior tipo de
medo é o medo do medo.
O fenômeno RAM fotografa bilhões de
experiências durante nossa existência. Todos nós, mesmo os que tiveram uma
infância feliz, adquirimos enormes favelas no inconsciente. Quais são as suas
favelas?
UMA
BARATA MAIS PODEROSA DO QUE UM SEQUESTRADOR
Dependendo do volume de tensão, as
experiências existenciais podem ser registradas de maneira tão traumática que
controlam a inteligência. Uma barata pode ser registrada como um monstro, um
elevador como um cubículo sem ar, uma reunião em grupo, como um ambiente
agressivo e castrador.
Lembro-me de uma paciente que foi seqüestrada
e ficou mais de um mês no cativeiro. Sabe qual a primeira coisa que ela
perguntou aos seqüestradores? Se haveria baratas no ambiente em que ela
ficaria.
O medo de baratas apavorava-a mais do que os
seqüestradores. Por quê? Porque na sua infância registrou a imagem de adultos
em pânico diante de baratas. Infelizmente havia no cativeiro muitas baratas. Uma
cobra apareceu e quase a picou, mas nada a perturbou tanto quanto as baratas.
Para dormir ela suplicava calmantes aos
seqüestradores. O medo encarcerou sua liberdade. Há medo de todos os tipos:
medo de perder o emprego, de ser assaltado, de um ataque terrorista, de andar
de carro, de ficar sozinho, de ser rejeitado, de fracassar. Quais são seus
medos?
UM MEDO
MUITO ESTRANHO
Recentemente uma jovem universitária disse-me
que tinha um medo incomum: pavor de pássaros. Um trauma na infância levou-a a
ter medo das inofensivas aves. Contou-me que podia enfrentar um cachorro bravo,
mas não um beija-flor. Como nossa mente é complexa!
Quem controla a nossa mente não é a realidade
real de um animal, pessoa ou situação, mas a realidade emocional registrada na
memória.
Temos uma fantástica
inteligência, deveríamos ser livres, mas facilmente criamos gigantes em nosso
inconsciente que nos ameaçam e nos aprisionam.
ESQUECIMENTO
Nossa memória é inúmeras vezes mais
sofisticada do que a de um supercomputador. Mas as pessoas estão reclamando de
que estão esquecidas, com memória “fraca”. Elas esquecem encontros, objetos,
novas informações. Desesperadas, procuram médicos, mas nada encontram. Deixe-me
dar uma refrescante notícia.
Não existe memória fraca, mas bloqueada, devido
à proteção cerebral. Como o cérebro tem mais juízo do que nós, ele trava a
memória para evitar que pensemos muito e gastemos energia excessiva. Bendito
esquecimento.
UMA BOA
NOTÍCIA PARA JOVENS E ADULTOS
Quer abrir as janelas da memória e libertar a
inteligência? Quer brilhar na s reuniões de trabalho e emitir opiniões lúcidas?
Quer ser uma fera intelectual nos concursos e entrevistas?
Primeiro estude dedicadamente. Segundo,
controle a fera da insegurança e do medo que habita em sua emoção! O cérebro
interpreta o medo como se sua vida estivesse em perigo, por isso bloqueia os
arquivos e produz os famosos “brancos”. Você tem uma fantástica inteligência.
Mas lembre-se de que o medo de falhar acelera a derrota.
DICAS
PARA PROTEGER A MEMÓRIA
Viva intensamente “as leis” para ser feliz:
contemple o belo, gerencie a emoção, trabalhe perdas. Mas o que fazer com os
traumas já registrados? É necessário reeditar o filme do inconsciente,
sobrepondo novas experiências sobre as antigas. Eis o maior desafio da
inteligência!
É necessário “criticar” diariamente as imagens
doentias da memória que nos controlam. É necessário também “não pedir” mas
“determinar” ser alegre, ousado, seguro, saudável. Essas ferramentas
reurbanizam as favelas do medo, do ódio, da autopunição e nos libertam.
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